
Há livros que são profissões de fé, crenças arreigadas que passam às novas gerações, melhor equipadas para a gestão de uma vida com muita qualidade. O livro “Kikas e o Professor Coração”, de Nilza de Assis, e com ilustrações de Beatriz Manteigas, Âncora Editora, 2014, tem o condão de nos cativar pela luminosidade dos seus apelos à literacia em saúde e pela sentida homenagem a um batalhador ímpar da promoção em saúde, o professor Fernando de Pádua que, aliás, nos oferece um prefácio condizente sobre as etapas já vividas na sensibilização para a prevenção das doenças cérebro cardiovasculares. Mas de que trata este livrinho encantador destinado à educação para a saúde?
Kikas é uma criança em crescimento, melhor referencial para os menores de 10 anos e para a alocução a estilos de vida saudáveis não podia haver.
Kikas tem oito anos, não é gordo nem magro, é tagarela, umas vezes trapalhão, outras vezes impulsivo. Como nos contos de fadas, é visitado pela fada Lucy, que lhe sussurra conselhos e estratagemas. E há também o Professor Coração, o alter-ego de Fernando de Pádua, um verdadeiro modelo de educação.
Podemos adiantar que a história do Kikas gira em torno dessas vogais: AEIOUS: A de Alimentação, E de Exercício físico, I de Inibir de fumar, O de Omitir o sal à mesa, U de Uma consulta por ano, S de Stresse.
Nós somos aquilo que comemos, o que falha na alimentação do jovem reflete-se no seu crescimento e na sua saúde. O Professor Coração lembra: “Todos nós temos colesterol no sangue. Mas o mal é quando existe em maior quantidade do que o necessário. Por isso, importa evitar o abuso de algumas gorduras que nos podem trazer o colesterol mau”. E há os açúcares, uma ameaça para a diabetes. Por isso se recomenda comer mais vegetais e fazer exercício físico, são duas ótimas formas de evitar engordar, diminuir o açúcar a mais e fugir da diabetes. O Kikas, que tinha andado reticente sobre hábitos alimentares, rendeu-se aos ensinamentos do professor: o nosso corpo sobrevive melhor e a saúde é ajudada se comermos mais vegetais, mais fruta, mais leite e mais peixe e corremos o risco de adoecer se abusarmos do sal, de gorduras ou de carne gordas.
Uma vida saudável faz-se a coberto da apologia ao exercício físico, Kikas vai ao futebol e fala-se dos quilos a mais, questão muito importante para travar o passo aos quilos a mais: “Não se deve ultrapassar em quilogramas um número de centímetros acima do metro. Se o pai mede 1,70 metros, deve ter menos de 70 quilos. Repara em quantos rapazes e raparigas teus amigos já têm mais peso do que deviam. As crianças gordas quase sempre se transformam em adultos obesos. A obesidade é a fonte de várias doenças a começar pela diabetes, o entupimento das artérias do coração e o acidente vascular cerebral”.
Aparece o Duarte lá em casa, o Duarte fuma, o professor coração evoca o sem-número de consequências da nicotina e das substâncias cancerígenas existentes nos cigarros.
Fala-se do sal e da hipertensão, das vantagens em fazer rastreios e ir ao médico pelo menos uma vez por ano. O Professor Coração comenta a frase de um seu mestre: a dor é amiga do homem, uma grande verdade, ao queixar-se de uma dor o doente avisa o médico do sítio em que existe o problema. Neste livrinho recheado de quadros ao gosto popular também se alude ao stresse, o bom e o mau, do bom não temos de nos livrar, porque ele ajuda-nos a correr, a brincar, a saltar. É do mau que temos de nos proteger, pois causa tristeza, ansiedade, medos e as nossas decisões pode até comprometer. E já que estamos a falar de quadras, ficam aqui uns versinhos para nunca esquecermos uma consigna que deve marcar o nosso pensamento positivo e os nossos passos no quotidiano:
O coração e tudo!
Sem ele, tudo não vale nada:
é que é ele que segura a vida,
que sem ele fica parada.
Para quem quer saber o que é a cultura de saúde solidária, leia este Kikas, asseguro que não ficará desapontado.
Mário Beja Santos
Março de 2015