
Covid-19: «Esta é a vacina das nossas vidas»
As pessoas idosas e com doença crónica são as maiores interessadas em que a vacinação contra a Covid-19 corra bem. Afinal, são elas as mais vulneráveis à doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. «Esta é a vacina das nossas vidas», deixou claro Isabel Saraiva, presidente da Associação Respira e moderadora do webinar sobre vacinação contra a Covid-19, que a Plataforma Saúde em Diálogo promoveu a 19 de Janeiro, e que contou com as presenças de José Alves, médico pneumologista e presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, e Hélder Mota Filipe, farmacêutico e professor na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, com passagens pelo Infarmed e pela Agência Europeia do Medicamento.
Há muita informação a circular sobre as vacinas contra a Covid-19, nem sempre oriunda de fontes fidedignas, alertou Isabel Saraiva. Este “ruído” gera confusão sobre a sua eficácia e segurança. Uma das desconfianças está relacionada com o reduzido tempo em que foram desenvolvidas e aprovadas, menos de um ano, mas, garantiu Hélder Mota Filipe, isso «não implicou diminuição das exigências de prova relativamente à qualidade, segurança e eficácia da vacina».
Ambos os especialistas garantiram que as vacinas contra a Covid-19 são seguras e eficazes. As duas vacinas até agora aprovadas para a União Europeia, desenvolvidas pelos laboratórios Pfizer/BioNTech e Moderna, apresentam uma eficácia de 95 por cento e, durante os ensaios clínicos, mostraram ser seguras, com efeitos adversos ligeiros, passageiros e similares aos da maioria das outras vacinas. «O que foi necessário fazer em relação à qualidade, segurança e eficácia das vacinas contra a Covid-19 cumpre com o que é exigido para qualquer outro medicamento nas mesmas condições», garantiu o farmacêutico.
As vacinas foram apresentadas como a “luz ao fundo do túnel”, no final do ano passado, mas José Alves e Hélder Mota Filipe alertaram que não é assim. Mesmo quem já foi vacinado precisa manter todos os comportamentos de segurança, até que seja atingida a imunidade de grupo, o que só deverá acontecer daqui a uns meses. A vacinação protege do desenvolvimento da doença, mas não está provado que proteja da infecção, havendo o risco de a pessoa vacinada contaminar outras pessoas. Por isso mesmo, as máscaras «são a medida preventiva mais importante, antes da vacina», afirmou o médico José Alves, relembrando a indicação da Fundação Portuguesa do Pulmão para que sejam usadas duas máscaras. «Uma máscara adicionada a outra é a melhor segurança que temos», afirmou.
As vacinas contra a Covid-19 que já estão a ser administradas apresentam algumas particularidades: complexidade de produção, condições de conservação exigentes (entre -20ºC e -70ºC) e prazos de validade curtos, quer de armazenamento (seis meses), quer de administração após constituição (seis horas). Estas circunstâncias exigem uma boa organização logística no terreno. «É preciso monitorizar o terreno em Portugal para garantir que evitamos o desperdício, principalmente quando temos urgência de tratar o máximo possível de pessoas e o número de vacinas é muito escasso», alertou Hélder Mota Filipe.
Na sua opinião, o plano nacional de vacinação contra a Covid-19, apresentado a 3 de Dezembro, não foi bem planeado e «não está preparado para o pior». Prevê ir envolvendo mais pessoas à medida que seja necessário, o que pode gerar «perdas de tempo graves». O farmacêutico apelou a que seja criada «desde já, a logística de distribuição e administração no terreno, para assegurar capacidade suficiente no segundo e terceiro semestre, quando se espera o grosso das vacinas».
Uma solução, sugere Hélder Mota Filipe, é incluir as farmácias na vacinação contra a Covid-19, opção de vários países, como a Inglaterra. «Acho irresponsável que não se prepare desde já a rede de farmácias para vacinar contra a Covid-19», referiu. Se a vacinação de milhares de pessoas ficar exclusivamente a cargo do SNS e dos centros de saúde, concluiu o farmacêutico, estes acabarão por «descurar outras tarefas, prejudicando a saúde dos doentes não Covid-19».
Isabel Saraiva também criticou o plano de vacinação nacional, manifestando preocupação com as pessoas que estão a ser «deixadas para trás», como os doentes que estão nas suas casas e os respectivos cuidadores informais. A responsável da Respira lamentou que as organizações de doentes não estejam a ser consideradas nas decisões relativas ao plano de vacinação contra a Covid-19 e que um mês depois do início da vacinação ainda não tenha sido vacinado qualquer doente. «Sentimos que nos estão a empurrar para a periferia do sistema», afirmou.
José Alves confessou ter ficado «abismado» quando soube que as pessoas com cancro não estão na primeira linha de vacinação. Na sua opinião, as pessoas que não são imunocompetentes, ou seja, que tomam medicação para diminuir a imunidade, devem ser vacinadas precocemente, se possível antes de iniciar a imunossupressão. «É fundamental começar pelos doentes», defendeu o médico.
Assista aqui ao webinar “Vacinação Contra a COVID-19: onde estamos e para onde vamos?”
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