Um outro envelhecer: Envelhecimento de Ruy de Carvalho

Um outro envelhecer: Envelhecimento de Ruy de Carvalho

Idoso, velho, antigo, ancião…

Termos que usamos diariamente para classificar aqueles que se encontram a atravessar uma etapa pautada de vertiginosas mudanças e alterações, que na maioria das vezes são subestimadas pelos outros.

A bem ver, referimo-nos aos heróis que assumem e enfrentam, diária e corajosamente, o peso das inevitáveis perdas que foram sofrendo ao longo do seu percurso de vida.

Limites, dificuldades, impossibilidades… que por vezes lhes são impostas por terceiros e que com teimosia, perseverança, firmeza e resiliência são transformadas em verdadeiras batalhas, travadas gloriosamente, e na maioria das vezes, Vencidas!

“Não morro antes do tempo, de maneira nenhuma” (Ruy de Carvalho)

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) o envelhecimento saudável não é a ausência de doença, mas sim, a preservação da capacidade funcional que garante a independência suficiente para a realização das atividades da vida diária.

Como sabemos, quando a saúde física fica comprometida, de forma mais ou menos grave, conduz a outros problemas de índole psicológico e social. A presença regular de dor e desconforto induz o aparecimento de sentimentos de tristeza, desalento e depressão, e estas por sua vez, amplificam a tendência para o isolamento e afastamento social, que não é desejável.

E assim surge mais uma etapa, mais um desafio e consequentemente mais uma nova aprendizagem. É então necessário reforçar o autoconhecimento, adquirir a aceitação pela individualidade que nos torna um ser especial e diferente e reforçar a paixão intrínseca que deve existir pelo “Eu”. Também é essencial a perda do Medo… o medo que nos limita, que nos bloqueia, que não nos permite ver e aceitar a realidade tal como ela é. O medo que despreza a vontade, a capacidade e a coragem que temos para continuar a VIVER!

“Envelhecer de forma ativa e com sucesso… É perder o MEDO!”

(Ruy de Carvalho)

Torna-se então determinante a manutenção e reafirmação de laços sociais, pois somos seres carentes de afeto e a nossa passagem pelos anos, pelo mundo, pela vida exige esta troca de confidências.

Nada nem ninguém nos retira esta característica tão banal quanto fundamental. Nada supera o brilho de um olhar num momento de alegria, o som de uma boa gargalhada, um sorriso em troca de outro, a ternura de um abraço, a calma de uma palavra amiga e o cair de uma lágrima perante uma profunda emoção!

“A importância de fazer tudo com amor, com dignidade, com a força que me advém de estar vivo, evitando rastejar, mentir a mim próprio e sobretudo mostrando a firme convicção de que parar…. É morrer! É morrer inutilmente!” (Ruy de Carvalho)

Existe um outro envelhecer, sim existe, sim é permitido.

Vivam! Vivam de forma verdadeira, leal e completa. Sejam simplesmente felizes. Não desperdicem momentos. A experiência do passado aliada às possibilidades do futuro permitem um presente ativo, intenso e prazeroso.

É legítimo exigir morrer apenas quando a hora chega e não quando a sociedade decide, e assim, nestes termos, podemos fazer com que este facto decorra com dignidade e com todo o mistério da saudade, porque:

As Árvores Morrem de Pé!

(Peça de teatro com texto de autoria de Alejandro Casona e Protagonizado por Ruy de Carvalho)

Marta  Duarte

Psicóloga Clínica e da Saúde
Sócia da www.girohc.pt/