Educar com Amor”, por Mário Cordeiro, a Esfera dos Livros, 2014, é um livro sem precedentes na bibliografia de um dos mais eminentes pediatras portugueses e no vasto rol de publicações da pedagogia infantil.
Mário Cordeiro lança um rasgado olhar sobre o que devem ser as traves-mestres de um sistema de ensino/aprendizagem, relacional e afetivo. É um libelo de alegria e felicidade, é uma apologia para um crescimento em que o psicoafectivo anda de mãos dadas com o conhecimento dos limites, e di-lo com singeleza, sem ambiguidades: “Os limites fazem bem e são fundamentais para que o ser-humano cresça forte e feliz. Uma criança, que vive sem os limites adequados, não se transforma automaticamente num homem íntegro e livre, como se acreditava há algumas décadas. Pelo contrário, sabe-se que a ausência de limites pode transformar a criança em alguém inconsistente, incoerente, desorientada e dependente”.
A equação tem duas premissas: amor e afeto, são os termos da aprendizagem. E há uma regra para resultados duradouros: “Uma criança que aprende a ser valorizada, positiva ou negativamente, pelo que faz e pelo que não faz, mas não pelo que é e pelo que não é, tem maior probabilidade de conseguir traçar um percurso de vida realista, com ambição e metas”. Daí ser crucial que devamos estar cientes das qualidades humanas que devemos ensinar aos nossos filhos: empatia, coragem e dignidade, partilha, honestidade, responsabilidade. O pediatra discreteia sobre o estabelecimento de limites e as pautas para uma educação assertiva, uma das principais alavancas para o primado educativo. É nesse contexto que analisa as birras, a expressão dos sentimentos, como se ensina uma criança a ser alegre, a cultivar e a multiplicar a alegria, sendo igualmente indispensável conhecer os sentimentos negativos que fazem parte da relação pais e filhos.
É neste contexto de implicação entre a vigilância e o afeto que o pediatra apela à atenção dos pais para os atos de mentir e roubar e recorda o peso da ética na educação da criança. Numa linguagem clara e coloquial, o pediatra recorda-nos que noções como “respeito”, “ofensa”, “dignidade” ou “honestidade” só serão compreendidos depois das crianças a sua prática nos outros e tiverem hipótese de os verem exemplificados e demonstrados. E que os pais se acautelem quanto à responsabilidade de educar e ensinar: “É nos primeiros anos de vida, antes da escolaridade obrigatória, que se adquirem os valores essenciais e se desenvolvem os hábitos de boa-educação, o que decorre da estruturação do cérebro, das zonas cerebrais relacionados com a inteligência emocional e com a interiorização dos sentimentos sociais. Não atirem para cima do sistema educativo o que é responsabilidade dos pais”.
O peso da comunicação é determinante nesta aprendizagem que todos nós desejamos que seja bem-sucedida com as nossas crianças. Esta aprendizagem tem requisitos, como sejam: estar disponível; ser um bom ouvinte; ser um bom referente ou modelo, por exemplo.
É um livro cativante, envolvente, comporta uma abordagem integral do sistema educativo na base do amor. E despede-se com a mesma luminosidade com que nos capturou a atenção ao longo desta leitura absorvente: “Não tentem moldar os vossos filhos, mas apenas os orientem e estimulem. Não tentem conter demasiado o rio que é o seu percurso de vida, mas tão-só estabeleçam margens para que o caudal corra bem. Principalmente pensem bem no que é amar de forma oblativa, e que esse sentimento passa, na prática, por mimo, amor, regras, limites, orientação e firmeza. Ensino e aprendizagem, de modo bidirecional e gostoso”. E termina mesmo citando Dorothy Law Nolte, alguém que revelou estratégias que deveremos ensaiar para que os nossos filhos tenham mais hipóteses de ser pessoas felizes, amadas e realizadas, de que se destaca:
Mário Beja Santos
Setembro de 2014