Um grande desafio para a cidadania na saúde: Saber gerir a doença crónica e aderir à terapêutica
Os dados são irrefragáveis: envelhecemos, temos mais doenças crónicas, sofremos de várias morbilidades e não nos tratamos convenientemente. Resultado: evitáveis perdas de qualidade nas nossas vidas, enormes desperdícios nos gastos de saúde, impressionante número de hospitalizações que não existiriam se os doentes aderissem à terapêutica prescrita. É assunto tão importante que por toda a Europa decorrem programas e experiências piloto para medir os resultados da interacção entre os profissionais de saúde e os doentes crónicos, sempre que se acompanha a adesão terapêutica em doenças como a asma, o cancro, as do foro cardiovascular, entre outras.
Sendo um tema essencial do nosso tempo, merece ser tratado com reflexão cuidada e uma sequência que ajude a abarcar a dimensão das muitas situações envolvidas. Primeiro, para haver adesão terapêutica, isto é, a plena aceitação e cumprimento da terapêutica prescrita pelo médico de família ou especialista, o doente deve aceitar o princípio de que tomar medicamentos envolve sempre um risco. Os efeitos prejudiciais chamam-se interacções, podem, de um ponto de vista clínico, não ser notados pelo doente, como é o caso da toma simultânea de dois medicamentos em que um diminui a quantidade absorvida do outro, reduzindo a sua eficácia. Daí a importância de saber que há interacções entre medicamentos e alimentos, medicamentos e álcool e até medicamentos e bebidas estimulantes como o café e mesmo entre medicamentos e a exposição solar. O bom uso do medicamento pressupõe que o doente esteja completamente informado quanto à boa administração do que toma, do que constituiu a sua terapêutica. O horário da toma é fundamental, também o modo como toma: sentado ou de pé, com o estômago cheio ou vazio, em que circunstâncias a ingestão de alimentos poderá prejudicar a eficácia do medicamento. Daí a importância em saber-se mais sobre a auto-medicação, o que é, em que situações está desaconselhada e como é que o doente crónico deverá pedir conselho quando quer tomar medicamentos não prescritos. Por exemplo nas doenças crónicas, quem sofre de hipertensão, de diabetes, epilepsia, hipertrofia da próstata, Parkinson, insuficiência cardíaca, glaucoma ou asma, é particularmente importante que seja feita uma escolha fundamentada dos medicamentos para a auto-medicação.
Veja-se um exemplo: um doente hipertenso, mesmo que apresenta valores da pressão arterial normais, como resultado do tratamento que está a efectuar, não pode tomar determinado tipo de medicamentos disponíveis para o alívio dos sintomas da constipação, sem que corra o risco de descompensação da sua hipertensão. São situações típicas em que se vê como o aconselhamento farmacêutico deve contribuir para a literacia em saúde e para a responsabilização doente. Por isso, falaremos a seguir dos aspecto principais da adesão terapêutica.
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11 de Janeiro de 2018