Plataforma Saúde em Diálogo recebida na Assembleia da República
A Plataforma Saúde em Diálogo apresentou na Assembleia da República as principais preocupações das associações de doentes no que respeita à resposta do país quanto à COVID-19 e ao acesso aos cuidados de saúde por parte dos doentes não-COVID-19. Isabel Saraiva e Jaime Melancia, membros dos Órgãos Sociais, foram ouvidos a 17 de Fevereiro numa audiência online da Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença COVID-19 e do processo de recuperação económica e social.
Isabel Saraiva pediu a intervenção dos deputados para que «seja revisitado» o critério que determina que só as pessoas com mais de 50 anos, com comorbilidades, são incluídas na primeira fase da vacinação contra a COVID-19. «Porquê este patamar tão rígido que deixa tanta gente de fora?», questionou, garantindo que «há muita gente que não tem 50 anos e seria elegível para a primeira fase da vacinação, atendendo à dimensão da patologia que tem». A também presidente da associação Respira apresentou o exemplo do critério usado em Inglaterra, que prioriza em termos de vacinação todas as “pessoas clinicamente vulneráveis”, independentemente da idade. «Parece-nos um critério que, além de já experimentado, é robusto em termos de equidade e tem tido sucesso», afirmou.
Outro tema que preocupa a Plataforma Saúde em Diálogo é a comunicação em matéria de pandemia e vacinação, que «não está trabalhada para o cidadão comum». «Nalguns serviços do Estado, nomeadamente na Direcção-Geral da Saúde, essa comunicação é de tal maneira cifrada, fechada e difícil que não chega às pessoas, causando angústia e confusão», assegurou Isabel Saraiva, que reiterou a disponibilidade da Plataforma para apoiar, com a sua capacidade de disseminação, a tarefa de levar informação clara às pessoas com doença crónica. «Queremos contribuir para que esta vacinação seja o maior sucesso para as pessoas com doença, porque são elas as principais interessadas em que corra muito bem», afirmou, lamentando que as pessoas com doença sejam «quase invisíveis» neste processo.
Jaime Melancia, que é também presidente da PSOPortugal – Associação Portuguesa da Psoríase, lembrou o impacto da pandemia no acesso aos cuidados de saúde por parte dos doentes não Covid-19, com o cancelamento de consultas, exames e cirurgias. Dirigindo-se aos deputados, apelou à necessidade de uma «estratégia comum para a recuperação da actividade assistencial em saúde que conte com o envolvimento de todos os agentes do sector». A este propósito, Isabel Saraiva lembrou que, já em Maio, a Plataforma tinha insistido que são precisas algumas condições para que a recuperação do acesso à saúde se verifique com «eficácia e tranquilidade». É preciso, enumerou, conhecer a capacidade instalada em termos de recursos de saúde e aproveitá-la na sua totalidade e, a par, alocar um «envelope financeiro robusto» para compensar os profissionais que entrem nesse esforço de recuperação, e um «investimento robusto em tecnologias de informação» nos centros de saúde, para que consigam dar resposta eficaz por telefone ou email.
Os deputados presentes na Comissão Eventual, do PSD, PS, BE e PCP, saudaram a pertinência das questões colocadas e a «ousadia de querer ter voz» neste tema, como afirmou Telma Guerreiro. A deputada do PS garantiu que a questão do critério dos 50 anos será colocada à Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, que será em breve ouvida por aquela comissão. Lembrou ainda que o Governo reconheceu falhas a nível da comunicação sobre a doença, tendo já anunciado a criação de uma task force com cientistas da área do comportamento com vista à sua melhoria.
Para Isabel Saraiva, o balanço da participação na audiência foi muito positivo e importante sobretudo pela visibilidade dada às questões que preocupam as associações de doentes e ao trabalho da Plataforma Saúde em Diálogo. «Ambos foram reconhecidos pelos deputados e é interessante ver que alguns aspectos que nos preocupam foram bem acolhidos, no sentido em que são também as suas preocupações», concluiu.