“Pensar perder o peso que pesa” por Isabel do Carmo

“Pensar Perder o Peso que Pesa, compreender para decidir”, é o mais recente livro de Isabel do Carmo (Publicações Dom Quixote, 2013), conceituada especialista em obesidade e comportamento alimentar.

A obesidade, é sabido de todos, passou a ser encarada como uma epidemia global. Bem entendido, há a obesidade mórbida e algumas outras formas de massa gorda. O que interessa é que quanto mais peso maiores são os riscos para a nossa saúde. A autora começa por discretear sobre as formas de obesidade e como se apresentam os obesos neste mundo em que vivemos. E faz-nos refletir sobre certos resultados evidenciados pelas estatísticas: quanto mais instrução menos obesidade e quantas maiores dificuldades financeiras maior é a prevalência da obesidade em crianças e jovens. Refere o caso de Portugal, Espanha, Itália e Grécia em que um terço das crianças e jovens destes países estão profundamente afetados pela obesidade: “É uma das faturas que vamos pagar. Crianças obesas serão adultos obesos, com doenças associadas: diabetes, doenças cardiovasculares prematuras, doenças osteoarticulares. O país estará a pagar daqui a 50 anos este juro da dívida, que é económico e que é humano”.

São múltiplas e complexas as causas do peso a mais e não se pode dizer que há uma causa única. Com humor, a endocrinologista questiona as razões deste peso a mais onde podem aparecer a gravidez, a resposta ao stresse, a chegada da menopausa, o deixar de fumar, a toma de medicamentos. E tratando sério o que é muito sério, comenta os mecanismos que levam a comer de mais, centrando-se na fisiologia, no nosso tecido gordo e como é que se pode chegar à doença, caso da diabetes e das doenças do foro cardiovascular. Sente-se o peso a mais nas articulações, nos pés, na coluna, mas também no refluxo gastro-esofágico.

Então que de regime saudável carecemos para prevenir a obesidade? O regime saudável é que aquele que tem nutrientes suficientes sob o ponto de vista da manutenção do corpo humano com a saúde. Esse regime carateriza-se por uma ingestão da quantidade energética (calórica) idêntica à despendida; ao consumo diário de cinco porções de fruta e ou vegetais; ao consumo de lacticínios, cereais integrais e sopa; à redução das gorduras animais e dos açucares; à preferência pelo padrão mediterrânico (metade do prato com vegetais, pequenas porções de carne, peixes ou ovos, feijão ou grão, arroz ou massa); 1,5 a 2 litros de água por dia, por exemplo.

E assim se chega aos pratos de substância da médica e que porventura muito interesse suscitarão ao leitor: as dietas para emagrecimento, os medicamentos para a obesidade, como mudar o comportamento e aderir a um regime alimentar saudável, qual o estado da arte da cirurgia no tratamento da obesidade.

O regime para perda de peso, insiste a autora, deve partir de uma ideia positiva e racional: a quantidade de energia ingerida deve ser menor do que a despendida. Não há milagres, nem dietas milagrosas que deem a volta a esta aritmética simples. E tece os seus comentários a uma dieta hipocalórica moderada, à dietas de baixo valor calórico, de muito baixo valor calórico, aos regimes especiais de emagrecimento, entre outras. Faz frequentemente chamadas de atenção a erros comuns praticados às vezes com a melhor das intenções. É o caso daqueles que aderem ao regime vegetariano e que comem habitualmente croquetes e rissóis de vegetais, chamuças, tartes e quiches de vegetais, descuram que se trata de fritos que alteram a carga calórica. Quem almoça fora de casa deve cuidar do que há na cantina, do que põe na lancheira e de como se deve comportar ao balcão.

Passando para os medicamentos, recorda-nos que os que estão destinados ao tratamento da obesidade estão associados a muitas espectativas, alguns êxitos e sucessivas suspensões. “Em anos passados, receitavam-se e foram muito consumidos medicamentos anorexisantes que eram estimulantes. Era o caso do Drenur. Foram todos retirados do mercado porque causavam aumento da frequência cardíaca, aumento da tensão arterial e dependência. Depois apareceu o Isoméride, que foi muito usado, mas em seguida retirado por risco de hipertensão pulmonar. Seguiu-se o Reductil, com largo uso e bons resultados, mas que foi retirado em 2010, também por causa de efeitos cardíacos. Apesar disso, há ainda doentes que adquirem esta substância (Sibutramina) através da internet. Devem ter precauções se tiverem doença coronária, insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão não controlada. Também não deve ser acumulado com antidepressivos”. E enuncia as diferentes famílias de medicamentos que podem ter efeito na obesidade. Tece depois críticas graúdas aos suplementos alimentares recordando que este poderoso lóbi conseguiu que a inspeção e aprovação de suplementos fique fora da área da saúde, e é assim que produtos muitas vezes desconhecidos se vendem em cápsulas, pastilhas, comprimidos, pílulas, prometendo ter efeitos seguros sobre obesidade, além de não terem a sua toxicidade é um perigo potencial para a saúde dos crédulos que os tomam.

Do maior interesse é o capítulo que a autora reserva à força de vontade e ao faseamento de um comportamento consciente e da construção de um plano bem estruturado que nos impeça retrocessos e falhanços duros de digerir.

Também com grande interesse é o capítulo reservado à cirurgia no tratamento da obesidade, à luz dos conhecimentos atuais. “Pensar Perder o Pesa que Pesa” fica na dianteira da bibliografia obrigatória de todo aquele que pretende perder o peso e quer fazê-lo de uma forma responsável, eficaz e duradoura.

 

 

Mário Beja Santos

Fevereiro de 2015

 

 

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