Passos largos na humanização dos cuidados de saúde

Passos largos na humanização dos cuidados de saúde

A comunicação entre as entidades de saúde e os doentes também pode e deve ser melhorada. A desinformação e a falta de clareza continuam a prejudicar a boa implementação de novas medidas de saúde.

Muito se tem trabalhado em Portugal rumo ao acesso generalizado aos cuidados de saúde. No entanto, ainda existem desafios significativos, especialmente para aqueles que residem fora dos grandes centros urbanos e para as populações mais desfavorecidas. A descentralização dos cuidados de saúde é, por isso, crucial para garantir que todos tenham acesso aos serviços de que necessitam, quando precisam. Este é o caminho certo para a humanização nos cuidados de saúde.

Um avanço notável nesse sentido foi o alargamento da vacinação contra a gripe e contra a Covid-19 às farmácias, em colaboração com o SNS. Esta medida não só tornou a vacinação num acto mais próximo e conveniente para os cidadãos, como também permitiu um tratamento mais personalizado do cidadão. Os farmacêuticos, por estarem próximos das comunidades e conhecerem os seus utentes, desempenham um papel fundamental no acompanhamento e identificação das necessidades de cada um.

Espera-se que também os doentes crónicos, independentemente da sua idade, possam beneficiar desta acessibilidade e comodidade no acesso à vacinação sazonal.

A recente promulgação do Decreto-Lei de dispensa de medicamentos hospitalares em proximidade foi outro fator decisivo, em especial para os doentes crónicos, que podem assim começar a beneficiar de receber medicação hospitalar numa farmácia ou hospital mais próximos da sua área de residência.

Esta medida não só facilitará a obtenção dos medicamentos de que os doentes necessitam e, consequentemente, a adesão à terapêutica, como também aliviará a pressão sobre os hospitais, garantindo uma entrega mais rápida e eficiente.

Porém, o caminho é longo.

Médicos, enfermeiros e farmacêuticos, todos têm um papel essencial, dentro das funções que desempenham, para prestar ao doente os melhores cuidados possíveis. Interessa, pois, que esta colaboração seja reforçada, que haja convergência de ideias e que nos deixemos de crispações quando o que está em causa é o bem-estar do doente.

Infelizmente, vivemos também demasiados entraves à disponibilização de medicamentos, seja por ruturas de stock, ou por atrasos na introdução no mercado e respetiva comparticipação de medicamentos inovadores, que poderiam transformar muito o dia-a-dia de doentes crónicos. Sejamos expeditos e lembremo-nos do que está aqui em causa: melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

A comunicação entre as entidades de saúde e os doentes também pode e deve ser melhorada. A desinformação e a falta de clareza continuam a prejudicar a boa implementação de novas medidas de saúde. Exige-se, pois, clareza aos grandes agentes da saúde em Portugal neste domínio, bem como uma maior aposta na literacia em saúde, de forma a promover uma maior adesão aos cuidados de saúde preventivos.

Em última análise, a humanização dos cuidados de saúde não se resume apenas a garantir o acesso aos serviços necessários em tempo útil, mas também a saber ouvir os utentes e tratá-los com respeito e dignidade, centrando neles a prestação dos cuidados de saúde.

Um sistema de saúde mais próximo e humanizado contribui para menos gastos e menos tempo perdido por parte dos doentes, para a uma melhor qualidade de vida dos doentes e suas famílias, e para uma maior sustentabilidade do sistema de saúde, uma vez que os recursos são usados de forma mais eficiente.

É, por isso, hora de dar passos largos em direção a uma saúde mais humana e acessível, de todos para todos!

Fonte: Observador