Pôr a tecnologia ao serviço da saúde
Por todo o país são longas as listas de espera para as consultas de dermatologia. A Unidade Local de Saúde de Matosinhos arranjou uma solução que garante que quem precisa é visto por um especialista. Os utentes marcam consulta com o seu médico de família, que fotografa a lesão na pele e a envia, juntamente com a história familiar, ao médico dermatologista, por via electrónica. Com base nesta informação, o dermatologista faz o seu diagnóstico, que envia ao médico de família. Se necessário, marca uma consulta presencial.
Estas teleconsultas de dermatologia têm várias vantagens: os doentes não têm de deslocar-se à consulta de especialidade, poupando tempo e dinheiro. Os dermatologistas diminuem a sobrecarga de trabalho. Os médicos de família ganham competências no tema e reforçam os laços com os seus utentes.
Este exemplo mostra como as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) estão a revolucionar a forma como são prestados os cuidados de saúde. A TeleSaúde, conforme se convencionou chamar a este novo modo de agir, inclui desde consultas médicas por videoconferência, em que médico e doente não estão no mesmo espaço físico, até ao envio electrónico de análises ou raios X. Há ganhos de tempo e uma nova noção de espaço, visto que é possível pôr em contacto, em tempo real, diferentes profissionais de saúde ou médicos e doentes fisicamente distantes.
Nesta nova forma de pensar os circuitos da saúde, os doentes e os cuidadores estão mais próximos dos profissionais de saúde e têm um papel mais activo nas decisões a tomar. Também as associações de doentes têm um importante papel, explicando aos doentes e cuidadores o conceito da TeleSaúde. Por este motivo, a Plataforma Saúde em Diálogo convidou a directora do Centro Nacional de TeleSaúde, Micaela Monteiro, para falar do tema aos seus associados, numa conversa informal, que decorreu a 4 de Outubro no Espaço Saúde em Diálogo, em Lisboa.
Para que a TeleSaúde tenha sucesso é preciso investir em tecnologia robusta, mas também na simplificação dos processos. Os softwares usados pelos profissionais de saúde têm de permitir funcionalidades sofisticadas, como videoconferência ou visualização de análises e Raios X. Têm também de ser interoperáveis, comunicando entre si.
Actualmente, é precisa regulamentação que clarifique as responsabilidades de cada um, em cada fase do processo, e garanta a segurança e a protecção dos dados. «Tudo tem de estar claro para que todas as partes se sintam seguras e estejam disponíveis para aderir», referiu a médica. Finalmente, é preciso capacitar os profissionais de saúde para que saibam usar a tecnologia e sensibilizar a comunidade – doentes, familiares e cuidadores – para as suas vantagens.
Criado há dois anos, o Centro Nacional de TeleSaúde tem como objectivo identificar as boas práticas de TeleSaúde, perceber os problemas e sensibilizar as pessoas para as suas vantagens. «Só uma em quatro iniciativas de TeleSaúde demostrou eficácia económica», notou Micaela Monteiro. Desde Julho de 2017, este organismo integrou a linha Saúde 24, dando origem ao novo SNS 24 – Centro de Contacto do Serviço Nacional de Saúde, que além de uma linha telefónica (mantém o contacto 808 24 24 24), está acessível em www.sns24.gov.pt, com novos serviços. É possível marcar consultas com o médico de família, tratar de assuntos administrativos e já funcionam os serviços de triagem, aconselhamento e encaminhamento (TAE). Em breve serão incluídos outros, como os serviços de telecuidados, por exemplo a telemonitorização no domicílio de algumas doenças crónicas.
Artigo resultante da sessão de 4 outubro de 2018 realizada em parceria com a Centro Nacional TeleSaúde sobre o tema TeleSaúde.
Exemplos de boas práticas
Telemonitorização da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)
O programa de telemonitorização no domicílio está em funcionamento nalgumas unidades locais de saúde, como a do Alto Minho. Os doentes crónicos recebem em suas casas pequenos dispositivos, como termómetro e saturómetro, que lhes permite, ou aos cuidadores, recolher informação útil para antever eventuais sinais de descompensação. Os dados são enviados diariamente à equipa do hospital.
Como resultado, as idas às urgências diminuíram para metade, houve menos 70% de internamentos e 96% dos utentes mostraram-se satisfeitos, graças à confiança de se saberem monitorizados diariamente e conhecimento que ganharam sobre a própria doença.
Consulta de nefrologia em tempo real
Na Unidade Local de Saúde de Castelo Branco a primeira consulta de nefrologia é sempre feita em formato de teleconsulta. O doente, juntamente com o médico de família, participa numa videoconferência com o médico no hospital, onde debatem a melhor estratégia.
As vantagens não se limitam à diminuição de viagens por parte dos doentes. Estes tranquilizam-se por saber que foram ouvidos por um especialista e há ganhos resultantes do intercâmbio entre médicos hospitalares e de medicina geral e familiar, nomeadamente na vertente preventiva.
Programa de gestão de caso
O projecto decorre na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, onde foram identificados utilizadores frequentes do serviço de urgência (mais de seis vezes/ano). São doentes crónicos com multimorbilidade e, por vezes, problemas sociais associados.
A cada doente é alocado um enfermeiro gestor que faz a intermediação com o médico internista, o assistente social e o doente ou cuidador. Este enfermeiro desloca-se a casa do doente, equipado com um computador portátil, onde regista toda a informação, que depois é partilhada com a restante equipa de gestão de caso, multidisciplinar, que opera no hospital e centros de saúde. Com base nessa informação é criado um plano de cuidados integrado para aquela pessoa. O projecto pode ser enriquecido com telemonitorização.
Telepatologia no hospital Pêro da Covilhã
Devido à escassez de médicos, muitos hospitais não têm capacidade para ter a especialidade de anatomia patológica, usada para o diagnóstico de doenças através do estudo de material biológico obtido a partir de órgãos ou tecidos.
No hospital Pêro da Covilhã, as amostras recolhidas são digitalizadas e enviadas para um centro de diagnóstico. Desta forma, evita-se a necessidade de enviar as amostras fisicamente e garante-se o acesso aos melhores especialistas por parte de todos, mesmo que vivam fora dos centros urbanos.
Telerrastreio da retinopatia diabética
A Administração Regional de Saúde do Norte tem em curso um programa de rastreio da retinopatia diabética que abrangeu 300 mil doentes desde 2009. As pessoas com diabetes são convocadas aos centros de saúde, onde um técnico fotografa a retina, enviando depois as imagens para um centro de diagnóstico do Porto.
Desta forma, o processo de triagem é feito num momento anterior às consultas de oftalmologia, optimizando o tempo destes especialistas, que recebem apenas os doentes que realmente precisam de consulta.