Gerir o Stresse em Tempo de Crise

Vê-se a olho nu nos escaparates das livrarias o que está a crescer nas vendas da chamada não-ficção: o extenso universo do desenvolvimento pessoal, os cuidados com as finanças e as análises sobre a crise que se instalou na Europa particularmente depois de 2008. No domínio do desenvolvimento pessoal, os conselhos de tranquilização têm tido um crescimento impressionante, envolvem-se de correntes místicas, de processos de meditação, etc. Mas o stresse, tema popular e recorrente, suscita muita atenção e há cada vez mais autores a impô-lo como a alavanca da qualidade de vida, a sua gestão é apresentada como obrigatória para não ser devorado pela atmosfera de acabrunhamento que vai empapando a sociedade portuguesa.

Gerir o Stresse em Tempo de Crise”, por Conceição Espada, Pergaminho, 2013, documenta o fenómeno do stresse nos seus diversos aspetos e dá conselhos e indicações muito práticos para os gerir, faz-se complementar com vários exercícios e atividades, bem como por um diário que permitirá a qualquer interessado uma gestão personalizada do seu nível de stresse.

A autora dá a sua própria interpretação sob o stresse em tempo de crise, avivado pelo consumismo, pelos cenários virtuais, pelo descontrolo no crédito, pelo mau uso das novas tecnologias e meios de comunicação, pela perda de capacidade de inovação criativa e empreendedora, e assim conclui: “Perante uma situação causadora de desgaste e de pressão, é necessário adotar uma postura mais saudável e equilibrada. Daí a importância de saber gerir o seu stresse em cada situação”, estamos perante um novo estado de stresse criado pelos tempos da chamada conjuntura de crise.

Analisando a distinção entre stresse individual e stresse coletivo, começa por abordar uma expressão na moda “zona de conforto” que não é mais que uma zona de acomodamento e segurança. Parece na substância uma trivialidade mas não é, como observa: “Quando as pessoas se acomodam à sua zona de conforto têm muita dificuldade em abraçar novos desafios, novas rotinas, em conhecer novas pessoas e começar novos relacionamentos. A zona de conforto é, paradoxalmente, uma fator stressante, porque, quando alguma pequena coisa ou pormenor não corre tal como é habitual, esse pormenor funciona como um agente stressante e vai provocar um impacto negativo”. Ora, a destruturação no mundo do trabalho e o grau de imprevisibilidade para negócios e emprego é de tal ordem que é fundamental criar regras de disciplina para não ficar submerso pelas ondas de angústia, há que encontrar um meio para, a despeito de todas as contrariedades e constrangimentos, conseguir uma vida de qualidade, equilibrando fatores positivos e negativos do stresse. A autora dá-nos um quadro sumário das várias formas de stresse ao nível das organizações, do desemprego, da reforma, nos relacionamentos, nas faixas etárias, etc. Daí a importância que atribui aos exercícios práticos de adaptação à vida quotidiana: respiração abdominal e relaxamento progressivo. É neste contexto que nos apresenta um quadro de objetivos a atingir com a gestão do stresse, exemplifica com casos reais e apresenta uma agenda mensal que poderá contribuir para se repensar a vida. E desabafa com o leitor:

“Não podemos alterar as condições exteriores, mas podemos gerir e modificar o impacto que estas têm em nós.

Muitas vezes as pessoas olham para mim como se eu passasse pela vida sem me deparar com fatores de stresse. Na verdade o que aconteceu realmente comigo foi que, exatamente por a vida me ter confrontado com vários e frequentes fatores de stresse, aprendi a gerir, contudo aquilo que investigo há vinte anos e com o método que desenvolvi, todo o stresse que os aspetos que marcam a minha vida me vão causando.

Quando, em 2011, comecei a delinear este livro, vi-me confrontada com momentos altamente stressantes do ponto de vista mental, emocional e mesmo físico. Na altura, pensei que nada me afetava, mas rapidamente percebi que estava muito perto de um burnout. Tive alguma dificuldade em aceitar, porém a verdade é que as minhas capacidades estavam aquém daquilo a que estava habituada. Aceitei, tratei-me, e o que aconteceu foi que, devido a todas as técnicas e métodos que utilizo, foi mais fácil para mim recompor-me, perceber os meus limites e ter a consciência de que já os tinha ultrapassado”.

 

Leitura estimulante para quem quer transformar o seu quotidiano numa experiência de autodescoberta e crescimento, explorando novas vias.

 

 

Mário Beja Santos

Novembro de 2013