“Como lhe surge e porque aceita o desafio de liderar a Plataforma?
Na Plataforma represento a Alzheimer Portugal que é uma das associações fundadoras. A Alzheimer Portugal sempre foi, ao longo dos anos, uma associação muito presente na vida da Plataforma. Por essa razão, surgiu com naturalidade o convite para assumir a presidência. Aceitei com gosto o desafio, por acreditar que o trabalho aqui desenvolvido consegue fazer a diferença na vida das pessoas com doença.
Que grande propósito norteia o trabalho da Plataforma?
O nosso lema é o de que na Plataforma as necessidades de uns são os objetivos de todos. Ou seja, queremos ajudar as nossas associadas a atingirem os seus objetivos, a ultrapassarem as suas dificuldades, sendo que procuramos sempre desenvolver temas que sejam transversais às nossas associadas (doença crónica, cuidador informal, por exemplo).
Como analisa a relação entre a Indústria Farmacêutica (IF) e os doentes?
Ao longo dos anos, a relação entre a IF e os doentes e as associações que os representam tem vindo a desenvolver-se no sentido de existirem verdadeiras parcerias, nas quais se levam a cabo diversas atividades, tendo em vista alcançar objetivos comuns, como sejam a capacitação dos doentes e das associações sobre investigação e, muito em especial, sobre ensaios clínicos; a realização de eventos e campanhas destinadas a aumentar a literacia em saúde da população, nomeadamente sobre prevenção da doença e promoção da saúde.
As regras que regulam atualmente a relação entre IF e os doentes e as associações que os representam são muito claras e pautam-se pela transparência e pelo rigor, o que é muito positivo.
Que outros projetos e parcerias julga que a IF poderia desenvolver com as associações de doentes?
A realização de estudos e inquéritos que sirvam para fundamentar as posições das associações juntos dos decisores políticos parece-me ser uma grande mais-valia. Estudos sobre o custo e carga de determinada doença, sobre a perceção que a comunidade tem sobre certa patologia, sobre o impacto económico e social de determinada doença sobre doentes e cuidadores, são apenas alguns exemplos.
Durante o último ano, temos feito um trabalho de aproximação à IF que tem dado frutos muito positivos. São disto exemplo o apoio à nossa conferência anual “Novos caminhos, um desígnio comum”, a realização do Livro Branco das Associações da Plataforma Saúde em Diálogo – Retrato dos Novos Tempos, que relata a forma como as associações viveram e ultrapassaram os desafios da Pandemia, e o “Fórum Saber Mais para Apoiar Melhor”, cuja primeira edição tem o tema “Dados em Saúde”.
Do ponto de vista do doente, como acha que está a imagem da IF?
De um modo geral, o doente e as associações têm uma imagem positiva da IF.
No âmbito do projeto “Luz Verde”, quais as grandes dificuldades sentidas pelos doentes e que avaliação fazem da iniciativa?
As associações de doentes estiveram ativamente envolvidas nesta operação, uma vez que, em tempo de pandemia, ainda se tornaram mais notórias as dificuldades sentidas pelos doentes que tinham de se deslocar aos hospitais para obterem a sua medicação.
Em 2020, a Plataforma dirigiu carta sobre este assunto à então Ministra da Saúde, na qual teve oportunidade de defender que este acesso de proximidade a medicamentos hospitalares deverá também prolongar-se no período pós-covid-19, pelo impacto positivo para a pessoa com doença e seus cuidadores. Para além de contribuir para a proteção da pessoa com doença e para evitar a descontinuação da terapêutica e complicações associadas, contribui também para a qualidade de vida do cidadão, ao evitar gastos e deslocações desnecessárias e ao reduzir o impacto das faltas laborais, o que se traduz ainda em visíveis ganhos para o estado.
Quanto à avaliação, remeto para o estudo realizado pelo CEFAR, e publicado na revista científica internacional “Value in Health”, que evidencia o valor gerado sobre a transferência de medicamentos de ambulatório hospitalar para a farmácia comuni- tária durante a pandemia de covid-19. Os resultados do estudo publicado evidenciam que a dispensa destes medicamentos através da farmácia comunitária pode promover um melhor acesso, comodidade e conveniência nas deslocações, bem como na satisfação e resultados em saúde, contribuindo para a promoção da adesão ao tratamento.
Que expetativa tem em relação à nova liderança da Saúde?
O Senhor Ministro da Saúde deu-nos a honra de fazer o encerramento da conferência anual da Plataforma, aproveitando a oportunidade para anunciar duas medidas importantes para os doentes: renovação da prescrição da medicação para a doença crónica nas farmácias e o acesso de proximidade aos medicamentos hospitalares. São sinais positivos que nos permitem acreditar nesta liderança.”
Publicado na revista Marketing Farmacêutico nº 123, novembro/dezembro de 2022 | Marketing Farmacêutico | Netfarma