Dieta mediterrânica: saudável, adequada e económica

Tive o privilégio de ser amigo de um comunicador insuperável, o Dr. Emílio Peres, um verdadeiro paladino da educação alimentar, a quem se deve a fundação do curso de nutricionismo na universidade do Porto, ele foi a alavanca da campanha de educação alimentar “Saber comer é saber viver”, porventura a mais consistente campanha que houve em Portugal.

Uma das causas de Emílio Peres orientava-se no regime alimentar do Mediterrânio. Se é verdade que estamos posicionados para o Atlântico, muitas das nossas culturas são mediterrânicas, basta pensar no azeite. É uma alimentação sadia, e como ele escrevia: eficaz para prevenir o cancro, enfarte cardíaco e outras doenças metabólicas e degenerativas crónicas. É um regime com alto controlo das gorduras, com poucos ácidos gordos saturados, nele abundam vitaminas, minerais e fibra alimentar, o pão está sempre presente, as proteínas têm uma expressão reduzida. Dito de outro modo, combina um conjunto variado de alimentos da época, o uso de farináceos ricos de amido tem um grande peso, abundam hortaliças, legumes e frutos.

Um regime sobre o qual Emílio Peres teceu o seguinte enaltecimento: “O cerne é que os alimentos animais não são alimentos principais, são condimentos. Ao chegar, hoje, a um restaurante, informam-nos: podemos arranjar bacalhau, também temos vitela muito boa. Estamos a ver o prato: centra-se na carne ou no pescado. Nos países do Sul, vem acompanhado de batatas ou arroz mais uns legumes. No Norte da Europa, vem o bicho só e poderemos pedir um acompanhamento, que será cobrado em separado. Na tradição mediterrânia, ao chegar a casa somos informados de que hoje é arroz, feijoada, cozido, ensopado de batata, etc. Os alimentos hoje considerados eram condimentos. Davam um sabor e concediam alguma proteína e alguma gordura animal ao cozinhado. Pode parecer pobreza, mas sabemos hoje que assim comendo, força não falta (dava para cavar, ceifar, para vir de Roma a pé até à Lusitânia e combater com êxito), e que não há colesterol que suba ou cancro que apareça. Esta frugalidade remediada não era nutricionalmente pobre porque o número de alimentos diferentes presentes numa refeição era muito superior aos que hoje compõem uma refeição moderna típica”.

Vem isto a propósito de que há regimes alimentares que convidam ao mal-estar e outros que asseguram o bem-estar com menos dispêndio, menos riscos para um ambiente e que têm igualmente provado o partido de recursos próprios como o olival, os cereais, a horta, até o porquinho e o galinheiro. Lembro como Emílio Peres desfazia mitos. Dizia que era grande mentira que o pão engorde e justificava: é relativamente pouco calórico e é paupérrimo de gordura, 100 gramas de pão alentejano, ou de padaria vulgar, dão à volta de 220 calorias, menos de metade das bolachas tipo cream craker ou dos cereais de pequeno-almoço.

Mas este regime ainda tem outros predicados: a água não é destronada pelo vinho, este bebe-se em quantidades moderadas; usam-se infusões de erva sem açúcar. E come-se à mesa, com a família.

Comentou um dia a bastonária da Ordem dos Nutricionistas: esta alimentação está associada a um melhor de estado de saúde geral, a uma reduzida mortalidade coronária, há prevenção de vários tipos de cancro, da obesidade e da diabetes, das doenças neurológicas e das doenças respiratórias de origem alérgica.

A dieta mediterrânica é hoje conhecida como Património Cultural e Imaterial da Humanidade.

Procure introduzir este regime no seu quotidiano: iniciar o almoço e o jantar com uma sopa rica em hortícolas; o prato principal deve ser composto por 50% de hortícolas crus ou cozinhados, 25% de leguminosas e cereais (arroz, massa, farinha de milho, entre outros) ou batatas; e os restantes 25% por carne, peixe ou ovos; optar por fruta à sobremesa.

 

 

Mário Beja Santos

Março de 2015