
“Os cuidados paliativos são uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos doentes e suas famílias que enfrentam problemas associados a doenças que constituem risco de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento pela identificação precoce, avaliação e tratamento rigorosos da dor e outros sintomas, suporte psicossocial e espiritual”. Em “Cuidar em Fim de Vida” (por José Carlos Magalhães, Coisas de Ler, 2010) o autor, mestre em cuidados paliativos, aborda alguns contornos que revestem a experiência contemporânea de morrer. Trata-se de um olhar humano e rigoroso sobre os problemas de saúde ligados à doença crónica, a geriatria, a paliação e o fim da vida.
Os profissionais de saúde, na actualidade, estão confrontados pelo dever de tratar doentes em fim de vida e responder a múltiplas solicitudes: cuidados de higiene, prevenção das úlceras de pressão, acompanhamento de luto. Dá-nos uma síntese bem-feita da morte e do morrer nos últimos séculos e trata sem rodeios alguns dos mais importantes constrangimentos suscitados pelas condições de doença associadas à idade avançada dos doentes, no contexto dos cuidados paliativos.
A morte e o morrer são um produto socialmente construído e daí a necessidade de se proceder, de forma abreviada, a um olhar sobre a história das atitudes face à morte, já que o morrer na modernidade é caracterizado por uma perda das escolhas pessoais, é um misto de medo, isolamento da família, ausência de conhecimento e por um prolongamento por vezes doloroso até à morte. O autor diz a propósito que “A morte torna social e economicamente menos relevante, mas pessoal e emocionalmente mais dolorosa; ausente do público e presente no privado”. A morte na modernidade tem um predomínio público. Inegavelmente, os sentimentos pessoais do doente são ignorados enquanto o doente é transformado num objecto. Depois, a morte, regra geral, já não ocorre em casa mas num equipamento de saúde.
Daí a necessidade de preparar profissionais com conhecimentos adequados a estas diferentes valências: saber proporcionar alívio da dor; ajudar o doente a encarar a morte como um processo normal, integrando os aspectos psicológicos e espirituais dos cuidados aos doentes; tirarem partido do trabalho de equipa para darem resposta às necessidades dos doentes.
Estamos pois chegados a esta questão central que é a enfermagem em cuidados paliativos, a que o autor pretende responder abordando sequencialmente a dignidade, o conforto, o suporte e cuidados de saúde do doente. Estes profissionais de saúde devem ser sensíveis ao contexto em que a morte ocorre, promover a qualidade de vida e ser sensíveis também às ansiedades e expectativas das famílias, comunicando com carinho e com compaixão. Nesta acepção, o autor reflecte os desafios que são postos na actualidade à formação em enfermagem e procede mesmo a um conjunto de entrevistas junto de alunos finalistas de enfermagem que se revelaram disponíveis para partilhar a sua experiência de acompanhamento de doentes em fim de vida.
As conclusões são dignas de reflexão, a partir das experiências desses estudantes, emergem 5 categorias que não podem ser minimizadas em enfermagem orientada para cuidados paliativos: quais as maiores dificuldades sentidas no cuidar doentes em fim de vida; quais são as fontes de suporte durante este cuidado dos doentes; como se pode apreciar o valor desses mesmos cuidados, quais as práticas de cuidados e o que é que deve mudar na preparação do enfermeiro, na sua aprendizagem.
Como é evidente, estamos perante um estudo dedicado a um grupo específico de profissionais de saúde, e que são os enfermeiros em cuidados paliativos. Com a crescente importância do fenómeno do envelhecimento, os cuidados paliativos têm novas exigências na formação dos profissionais de saúde. Por isso, esta trajectória e esta análise sobre o cuidar em fim de vida não podem escapar à atenção da respectiva classe de cuidadores.
Mário Beja Santos
Março de 2012
Releia aqui outro artigo sobre a temática dos cuidados paliativos.