Bom sono, boa vida

A revista Sábado promoveu a coleção Saúde e Bem-Estar com um conjunto de livros ao preço de 0,95€ cada um. O 5º título desta série é de uma rara qualidade na comunicação e tem a ver com as doenças do sono. A autora, uma grande especialista na matéria, Teresa Paiva, guia-nos por uma viagem à volta de noites em branco, das suas consequências e dos resultados positivos, possíveis quando são tratados medicamente. E, assertivamente, assegura-nos: é possível dormir melhor, aprenda como (“Bom sono, boa vida”, por Teresa Paiva, Oficina do Livro, 2012).

A leitura é galvanizante. Começa logo por dizer que “Os que dormem bem e gostam de dormir podem sentir-se felizes por serem robustos numa função essencial. Quem dorme bem adormece rapidamente; não se lembra de acordar, apesar de ter microdespertares durante a noite; não se lembra de sonhar, apesar de o fazer, e acorda bem-disposto”. Claro que este sono tem regras, rituais, pois o dormir implica uma postura, é preciso uma temperatura adequada, um ambiente propício. Durante o sono, mudamos de posição algumas vezes e passamos por diversos ciclos de sono, após o adormecimento passamos do sono superficial para o sono profundo, depois novamente para o sono superficial e seguido de sono paradoxal. E durante o sono cumprem-se diversas funções, por exemplo: a hormona do crescimento é produzida durante o primeiro ciclo do sono (o ditado popular “Dormir faz crescer” é mesmo verdadeiro); a redução do sono aumenta a probabilidade de ter doenças infeciosas; são estabelecidos e sedimentados diversos processos cognitivos, sobretudo os que têm a ver com a memória.

Cada um dorme à sua maneira: muito ou pouco, os que nunca acordam de noite e os que acordam com qualquer coisa, os que adormecem rapidamente e os que levam algum tempo a adormecer. A idade também influi na qualidade e na quantidade do sono. Há o que podem tomar café à noite e não perturbam o sono e exatamente o contrário. O fundamental é não estragarmos o nosso bom sono. A autora, dentro do empolgamento desta leitura, está cheia de vontade para responder a todas as nossas dúvidas: se devemos fazer a sesta, se devemos dormir pouco ou se devemos dormir muito, como devem atuar os matutinos e os noctívagos para terem sonos reparadores; descreve os fenómenos associados ao adormecimento, explica-nos a inércia do sono e o fenómeno da paralisia do sono, bem como certos hábitos poderem ter um papel devastador na higiene do sono (caso do café, o álcool ou o tabaco); temos também os fatores da personalidade, os trabalhólicos, os que sofrem de stresse, os que têm cefaleias de tensão; e assim chegamos à insónia e quais as respostas não medicamentosas ao nosso alcance, temos depois as insónias psicofisiológicas, as que se iniciam na infância e há a síndrome das pernas inquietas que requer tratamento específico; mais adiante, há a considerar a doença, caso da fibromialgia e outros casos de diferentes queixas desde o doente que tem um atraso de fase do sono, passando pelos ressonadores, os que sofrem de apneia do sono, por vezes de tratamento difícil; há também quem sofra de narcolepsia (doença caracterizada por sonolência diurna), de hipersónia (dormir mais de 14 horas por dia).

Portanto, falar de sono é falar de uma coisa boa da nossa vida. E dormir bem é uma bênção. Ainda há muitíssimo mais para dizer sobre o sono: o jet-lag de quem viaja e atravessa vários fusos horários, deve-se estar prevenido e saber atuar; há quem durante o sono exerça violência noturna, sofra de sonambulismo, há mesmo casos de epilepsia ativada pelo sono, há quem durma a ranger os dentes ou dê pontapés ao parceiro da cama; há distúrbios alimentares relacionados com o sono, há mesmo uma cefaleia relacionada com o sono. E também outras situações particulares: perturbações do comportamento sexual, os casos de coceira noturna em crianças, crianças com terror noturno, crianças que fazem chichi na cama (enurese), etc.

Numa linguagem francamente acessível, Teresa Paiva vai bem ao fundo das doenças do sono, lembra aos estudantes universitários que pode haver tremendas consequências da privação do sono, que há apneias que podem surgir nas crianças, que a síndrome das pernas inquietas surge em idades jovens, que na depressão os pesadelos são comuns e que o excesso de sonhos chama-se hiperonirismo. No final deste formidável livro de divulgação sobre o sono e das doenças (que podem ir da simples insónia às síndromes mais raras), o leitor tem à sua disposição um glossário pertinente.

 

Leitura obrigatória para quem tem bom sono e não quer perder, leitura obrigatória para quem tem padecimentos e quer encontrar no sono a doçura da vida.

 

Mário Beja Santos

Março de 2012