Doentes Crónicos com Maior Apoio – Boas Práticas Europeias

 

É vastíssimo o universo dos doentes crónicos, abrange todas as idades (basta pensar na diabetes que atinge crianças ou na artrite reumatoide juvenil) mas é particularmente significativa nos seniores, afetados por diferentes doenças, o que se chama a multimorbilidade (do foro cardiovascular, respiratório, tumores, o mais que se sabe), sujeitos a terapêuticas várias, todas elas a requererem monitorização por um profissional que seja perito no medicamento para se ter uma vida com mais qualidade, num quadro desejável de um envelhecimento que seja bem-sucedido.

A adesão terapêutica num mundo em que há cada vez mais seniores é um importantíssimo ganho em saúde, trava hospitalizações, previne operações, recaídas, sobrecarga dos serviços hospitalares, é um dos maiores desafios para o futuro na Saúde.

Um pouco por toda a União Europeia este desafio está a ser levado muito a sério. Vejamos o que é a adesão terapêutica e o que está a fazer por essa Europa. A adesão terapêutica é sinónimo de tirar partido da utilização dos medicamentos graças a um cumprimento rigoroso da terapêutica, de acordo com as instruções do profissional de saúde que medica. O doente respeita a posologia (número de comprimidos por toma e número de tomas por dia), a hora da toma, a duração da terapêutica (que pode ser curta ou prolongada) e as recomendações feitas em função das caraterísticas de cada medicamento (tomar em jejum, após as refeições,…). Não vale a pena insistir neste aspeto: a não adesão à terapêutica não só põe em risco a saúde do doente como, no cômputo geral, tem efeitos devastadores no orçamento da Saúde, seja de que país for.

O que se assiste na União Europeia é à celebração de protocolos entre o Estado e as farmácias para programas de cuidados integrados a favor das doenças crónicas: trata-se de um acompanhamento personalizado do doente, destacam-se situações em que os doentes crónicos passam a ser acompanhados quando iniciam a toma do medicamento novo. Na Bélgica chama-se “farmacêutico de referência”, cada doente crónico tem total liberdade para escolher o “seu” farmacêutico que o ajudará nesse acompanhamento personalizado. Em França há um programa para monitorizar doentes crónicos com asma. E ficamos por aqui, aguardemos um futuro melhor para os doentes crónicos, com a adesão terapêutica ganham sempre os doentes, favorece-se a equidade em saúde, viveremos todos melhor com menos desperdício de recursos. Não se esqueça que o farmacêutico é por definição o técnico do medicamento, altamente habilitado para o seu aconselhamento, está sempre disponível para dar informação ao doente e capacitá-lo em aspetos decisivos para o seu estado de saúde, esclarecendo: para que serve o medicamento e de que forma irá o doente beneficiar com a sua toma; horário das tomas e respetivo intervalo; número de comprimidos por toma; precauções a seguir; cuidados com a administração; alimentos e medicamentos a evitar durante o tratamento; durante quanto tempo deve tomar o medicamento; quais os efeitos secundários que podem surgir e se e como podem ser minimizados. Isto para sublinhar que a dispensa de medicamentos com conselho é um dos maiores ganhos em Saúde e que a adesão terapêutica deverá ser encarada como uma porta aberta a um futuro melhor dos doentes crónicos.

 

Mário Beja Santos

Fevereiro, 2019