Alli, uma dieta na moda: nem tudo são facilidades

O livro chama-se “Alli o plano de dieta” e sugere que ajuda, comprovadamente, a perder 50% mais de peso do que fazendo apenas dieta (Livros d’Hoje, 2010). Para chamar a atenção dos leitores, lê-se na contracapa que com Alli começou a revolução na redução do peso corporal. A linguagem aqui utilizada é francamente promocional: “Alli é o primeiro e único medicamento na área do emagrecimento, não sujeito a receita médica, autorizado pela União Europeia. Foi clinicamente testado e a sua eficácia está comprovada na redução de peso até 50%, quando utilizado em conjunto com uma dieta baixa em calorias e gorduras”. E mais adiante é dito que apresenta nesta obra um regime dietético, sólido do ponto de vista médico, projectado por um nutricionista. Para enfatizar que se deve saber mais sobre este plano de dieta, recorda-se ao leitor que: 32,3% da população sofre de excesso de peso e 11,2 % de obesidade; a taxa de obesidade em Portugal é maior nas pequenas cidades; a região Centro e Alentejo regista o maior índice de obesos; e a obesidade afecta mais pessoas a partir dos 55 anos.

Este guia adverte também que Alli não é uma pílula milagrosa nem uma dieta de choque. Inclui um programa de apoio e tem suporte clínico irrefutável. Precisa de ser conjugado com um plano

alimentar com baixo teor de calorias e para gente determinada consegue mudar hábitos alimentares, ajudando a seguir um estilo de vida mais saudável.

Alli tem um funcionamento específico: o nosso organismo liberta enzimas naturais durante digestivo; dentre destas enzimas existem algumas que têm uma acção específica para decompor as proteínas, os hidratos de carbono e as gorduras; o Alli actua exclusivamente sobre as enzimas que degradam a gordura; como Alli pode diminuir a absorção de algumas vitaminas, deve ser tomado todos os dias ao deitar um multivitamínico que contenha vitaminas, A, D, E e K, o Alli inibe que cerca de um quarto de gordura que ingerimos através da alimentação não seja digerido pelos enzimas, e como a gordura não digerida não pode ser absorvida, sai naturalmente do organismo; finalmente, sendo a gordura o nutriente com maior densidade calórica ou energética, ao diminuir, graças ao Alli, parte da sua absorção, e desde que se opte por refeições com baixo teor de calorias e gordura, consegue-se perder peso mais facilmente.

Dentro do livro, como se fosse um lembrete, vêm elementos que devem ser tomados em consideração pelos potenciais utilizadores do Alli: devem ser respeitadas as recomendações dietéticas porque uma dieta com elevado teor em gordura aumenta a possibilidade de ocorrerem reacções gastrointestinais adversas; os doentes que estejam a tomar medicamento antidiabéticos ou amiodarona devem consultar o médico ou o farmacêutico antes de tomar Alli, o mesmo se passando para quem esteja a tomar medicamentos para a tensão arterial elevada e para o colesterol; doentes com hemorragia rectal devem consultar o médico e os doentes com doenças dos rins devem consultar o médico antes de iniciarem o tratamento com Alli. A lista de precauções e advertências é mais extensa.

Há igualmente efeitos do tratamento de que o utilizador deve estar previamente informado. É o caso das alterações a nível intestinal. Quando se ingere demasiada gordura, pode aumentar a probabilidade de aparecerem efeitos tais como: fezes gordurosas ou oleosas; fezes soltas e moles, e gases com ou sem perda de matéria oleosa. Também por isso é importante controlar o conteúdo de gordura das refeições.

O guia dá também dicas para evitar efeitos de tratamento, propondo por exemplo: iniciar a dieta de teor reduzido de gordura uns dias ou mesmo uma semana antes de começar a toma das cápsulas; saber mais sobre a quantidade de gordura que contêm os alimentos favoritos de quem está a fazer a dieta; e distribuir uniformemente o total de gordura por todas as refeições do dia. Toma-se uma cápsula de Alli três vezes por dia, às refeições, engolindo a cápsula inteira com água; não se deve tomar mais do que três cápsulas por dia e o utilizador não deve esquecer de tomar um suplemento multivitamínico ao deitar, como já se referiu atrás. Recomenda-se também que se deve pôr a quantidade certa dos alimentos apropriados no prato, como medida de disciplina. O fundamental da obra passa pelo conhecimento da dieta, que é a chave do êxito na perda de peso seguindo-se os planos de ementas e um vasto elenco de receitas.

Uma revista de consumidores, “Teste Saúde”, apreciou no seu número de Abril/Maio de 2010 a toma destas cápsulas para emagrecer, de uma forma muito crítica: dos 48 locais visitados, 43 venderam o medicamento mesmo quando este não estava indicado para as colaboradoras da publicação. Em 29 locais nada foi perguntado sobre o estado de saúde das consumidoras ou sobre os medicamentos que estivessem a tomar. E termina assim o estudo: “O Alli é vendido em embalagens de 42 e 84 cápsulas. As de menor capacidade custam entre 31,35€ e 43€ enquanto as maiores oscilam entre 48,99€ e 79,95€. Foram feitos estudos para avaliar a eficácia do Alli. Ao fim de 6 meses de tratamento, acompanhado de dieta e exercício físico, a perda de peso para quem tomou Alli foi de cerca de 4,4 quilos face a 2,1 quilos para quem não tomou. Uma diferença de apenas 2,3 quilos. Com três cápsulas por dia (a dose máxima recomendável, gastam-se cerca de 325€ para atingir aquele peso).

Importa não esquecer que o tratamento não deve ultrapassar os 6 meses e quem não perdeu peso ao fim de 12 semanas de tratamento deve consultar prontamente o médico ou farmacêutico. Alli não deve ser utilizado por pessoas com menos de 18 anos.

Tudo conjugado, o mais recomendável para quem tem peso a mais é começar por conversar com o seu médico de família, conhecer bem o seu estado de saúde e não descurar os aspectos sociais da alimentação, antes de iniciar um plano de dieta. De facto, importa estar determinado para a prática de um regime alimentar com redução de calorias, poder contar com a família, aceitar naturalmente o quadro de restrições para não prejudicar as relações sociais inerentes ao comer com os outros. Quando queremos reduzir o peso temos que encontrar um novo modo de praticar a convivialidade e de saber estar com os outros à volta da mesa.

E a questão fia mais fino quando se fala de obesidade em que, aí sim, é indispensável que o médico prescreva um regime personalizado e com a prescrição, se necessário dos medicamentos compatíveis.

Ler o plano de dieta Alli é uma coisa. Praticar um plano de dieta pressupõe o conhecimento do estado de saúde. A atitude mais responsável é falar com o médico e depois cumprir disciplinadamente o que ele propõe.

 

 

Mário Beja Santos

Março de 2012